Fiquei grávida do Benjamim quando praticava Ashtanga Yoga há cerca de 3 anos e meio.
Pelo que já tinha ouvido de outras mães ashtanginis, sabia que poderia continuar a minha prática habitual, mas iria sentir a necessidade de começar a adaptar alguns āsanas e deixar de fazer outros.
Procurei mais informação pela internet e li o livro das yoginīs Sharmila Desai e Anna Wise – “Yoga Sadhana for Mothers”.
O que mais me entusiamou ao ler este livro foram as histórias de cada uma destas praticantes, porque revela uma grande diversidade de experiências em cada gravidez, parto e pós-parto. Para mim, significava que o mais importante é sempre ouvir o que o nosso corpo nos pede a cada momento e confiar nas suas capacidades. Não existe uma fórmula para conseguir ter uma gravidez tranquila ou um parto como imaginamos. Porque o corpo de cada mulher é diferente e o(s) bebé(s) que cada uma carrega também tem as suas características únicas.
Por exemplo, é aconselhado que para uma melhor preparação para o parto, se faça alguns exercícios de abertura das ancas e da pélvis. No meu caso, não me era possível praticar baddhakoṇāsana ou postura da Borboleta porque durante a gravidez surgiu uma dor na anca, que piorava cada vez que fazia esse exercício. Outras pessoas, sentem-se bem em praticar posturas invertidas, como śīrṣāsana ou até Piñchamayūrāsana, até ao fim da gravidez, apesar de não ser recomendado à partida.
Durante estes meses, senti-me muito forte e fisicamente capaz. Por outro lado, entendi melhor a importância de sermos gentis connosco e prestar atenção ao que nos pede o nosso corpo e mente a cada momento.
Felizmente, hoje em dia já começamos a deixar de lado a ideia de que uma mulher grávida é frágil ou que está muito mais limitada. Naturalmente que, a disponibilidade física e mental não é a mesma, e possivelmente não voltará a ser. Mas o nosso corpo está desenhado para se mover todos os dias, quando não há nada que o impeça. Seja uma prática de Yoga Nidra, Ashtanga ou simplesmente dançar livremente, os resultados podem ser muito idênticos porque estamos a ir de acordo com as necessidades do corpo e da mente naquele dia.
Ainda sobre o livro que referi acima, gostaria de salientar que em cada uma das histórias, as praticantes dizem que um dos benefícios de uma prática regular de Yoga é a respiração. Saber como usá-la a nosso favor em momentos de dor e desconforto, é uma das ferramentas mais importantes.
Para uma mulher, durante o trabalho de parto, é necessário que ela se consiga concentrar no que está a acontecer com o seu corpo e no seu bebé. Para tal, deve estar num local confortável e seguro, com pouca luz e barulho, ter acesso a comida e água, para nomear algumas das necessidades. E dessa forma pode colocar em prática técnicas de respiração (Prāṇāyāma) que servem precisamente para direccionar a nossa atenção e foco para um determinado objecto, seja ele qual for. Isso, ajuda a trazer-nos para o momento presente e aí a nossa mente aquieta. Ser capaz de gerir os pensamentos de medo e ansiedade, é a chave para conseguirmos libertar-nos do sofrimento associado ao trabalho de parto.
A dor existe, sim. Mas podemos tornar este momento muito empoderador, quando finalmente conseguimos controlar a nossa respiração e atravessar a dor para o outro lado, para um lugar de tranquilidade.
As fotos foram tiradas pelo meu irmão, Miguel Brilhante, apenas 4 dias antes do Benjamim nascer, dia 7 de Setembro de 2023.